Enclausurado numa sociedade rigidamente normativa. Uma história de amor incompreendido, um recheio de lirismo esbelto e saboroso.
Na flor da idade, o amor resiste ao que vem tal como se resiste ao amor. Um homem e uma mulher, um homem e outra mulher, e damos por nós a ver a Idade de Inocência, um saudável tratamento cinematográfico. Scorsese corresponde aos luxos visuais com a sua visão necessária de expor o campo.
Uma época, uma sociedade, e onde cada apetrecho visível ilustra como fechada esta comunidade era. A riqueza infinita dos senhores de Nova York, os bailes e as intrigas, os pratos variados como as relações, os adereços, as flores, os belos salões, os grandes teatros onde óperas se faziam ouvir, e depois, gente complexa e gente simples. Maravilha a viagem visual e reconfortante a trama a que ela é inerente. Uma narradora relata este subtil e ao mesmo tempo grandioso conto. Segue-se um período belo e invejável, onde o excesso de escrúpulos se traduz na falta de outros, uma sociedade que penalizava pela intriga, pelo prosaico fala-barato, pelo clima irrespirável. Um retrato fidedigno de um tempo que não o nosso, passado, caso não seja fidedigno é verosímil, convincente e nesse caso a conjugação da colorida paisagem que o ecrã emana e da colorida forma de a representar surge como um grande trabalho do Sr. Martin Scorsese. Diálogos cuidados que evidenciam uma população sabedora e ao mesmo tempo decadente.
Tal beleza que esta obra sustenta que esquecemos a situação de estar entre a espada e a parede dos seus atónitos fantoches.