“Um autor não tem direitos. Eu não tenho nenhum, apenas deveres” Jean Luc Godard
Pegando numa citação de Jean-Luc Godard, defensor máximo de uma identidade de autor, cimentada por uma maioria de “autores” de um país e
de uma certa arte, apesar de não acreditar na ausência de direitos penso antes sobre quais deverão ser uns e outros.
Se um autor tem o direito a uma identidade, tem o dever de não se acomodar a ela.
Se um autor tem o direito a exprimir-se, tem o dever de compreender a arte pela qual se exprime.
Se um autor tem o direito de ser livre, tem o dever de trabalhar essa liberdade.
Se um autor tem o direito à liberdade, tem o dever de excluir egoísmos e autismos.
Se um autor tem o direito a exprimir-se, tem o dever de se actualizar sobre os métodos e competências técnicas que surgem intrínsecos à sua forma de expressão.
Se um autor tem o direito a um rosto, tem o dever de não o esconder por trás de uma máscara.
Se um autor tem o direito à poesia, tem o dever de fazer poesia, não forçar ambiguidades irrelevantes ou tomar posturas demagogas.
Se um autor tem o direito de falar por um povo, tem o dever de falar por esse povo e não falar somente para esse povo.
Se um autor tem o direito de ser remunerado, tem o dever de agir com profissionalismo.
Se um autor tem o direito à espontaneidade, tem o dever de ruminar essa espontaneidade.
Se um autor tem o direito de confiar em si, tem o dever de confiar no julgamento de outros.
Se um autor tem o direito de recusar abordagens aos seus projectos, tem o dever de justificar essas recusas evitando suportar-se em
argumentos vagos, análogos do vazio.
Se um autor tem o direito de não fazer filmes para crianças, tem o dever de não criar diálogos e personagens como crianças.
Se um autor tem o direito a errar, tem o dever de compreender e tentar contornar o erro.
Se um autor tem o direito a não contar uma história, tem o dever de não chamar “burros” ou “ignorantes” àqueles que não percebem o que não
existe.
Se um autor tem o direito a recorrer a práticas menos interessantes, tem o dever de o fazer de um modo universal de modo a que a universalidade cubra o método.
Se um autor tem o direito a vitimizar-se, tem o dever de não fazer vitima uma audiência.
Se um autor tem o direito a realizar obras junto de um público que não o compreende, tem o dever de tentar compreender o porquê de não haver público, não só junto de si, mas também no resto do Mundo.
Se um autor tem o direito à liberdade, tem o dever de tornar interessante a sua obra, principalmente quando está ciente de que esta desinteressa.
Se um autor tem o direito a experimentar, tem o dever de experimentar inovando e não de “experimentar” copiando.
Se um autor tem o direito a ser diferente, tem o dever de se destacar pelo interesse e originalidade dessa diferença e não ser diferente apenas por ser.
Se um autor tem o direito a fundos de um Estado, tem o dever de contribuir para o seu desenvolvimento.
Se um autor tem o direito a ser artista, tem o dever de fazer com que a sua obra seja publicada, difundida e confirmada.
Um autor tem o direito de se assumir como autor.
Um autor tem o dever de não se conformar com essa posição de autor.
Um autor tem o dever de credibilizar essa posição não só junto de si mas pelo resto desta esfera manchada de água e terra.