Quinta-feira, 27 de Janeiro de 2011

P.T. Anderson tem-se vindo a afirmar como um realizador de excelência com os seus trabalhos anteriores. No entanto "Haverá Sangue" é prova dessa excelência, é o grito de existência de um génio, é a marca de uma obra-prima. "Haverá Sangue" é o melhor da década e é, indubitavelmente, um dos melhores filmes da história do Cinema.

 

 

 

 

 

O arquétipo de como aproveitar os meios, de como conjugar as forças de uma equipa coordenada pelo novo génio cinematográfico, um novo Kubrick, seu nome P.T. Anderson. Versátil no género, versátil com a câmara, "Haverá Sangue" é um filme calmamente arrepiante, de tal modo arrepiante que tudo treme ao vê-lo e a ouvi-lo, tudo treme de frio, de perturbação, tudo fica céptico, tudo se deixa cair no nosso ser aos pés de uma jornada incomparável de um homem, Daniel Plainview. Tão calmo, longos planos, invadidos de um tratamento condescendente, que dá tempo a tudo o que filma, que dá tempo à beleza da imagem, à frieza dos acordes musicais e à profundidade de voz e expressão dos personagens.

 

 

 

 

 

 E é com uma calma confusa, que um ardente grito de violino incendeia os sentidos, ao mesmo tempo que do negro passamos para a imagem, para o completo, para o sublime, uma enorme encosta, despida, rija, seca, imponente, estrondosa, tal como Daniel. Uma picareta bate em pedra dura, um homem só, numa mina, num buraco. Um homem que parte uma perna, que rasteja pelo meio do nada, por cima de terrenos agrestes, aceitando tal penitência silenciosamente, em favor do sucesso.

 

 

 

 

 

Não há qualquer palavra no inicio de "Haverá Sangue", e quando temos conhecimento da fala neste, a primeira vez em que se coordena voz e gesticular ouvimos tais palavras: "If I say I´m an oil man you will agree". E todos concordam, o que há para discordar? Deste homem negro como o petróleo que extrai das entranhas da terra. Tudo fica manchado de negro, vermelho e suor. É esta sujidade, tão própria da vida, que faz com que esta perturbadora obra sobre a ganância, a avareza, a solidão, seja encarada cheia de vida, vida morta, que tem aquilo ainda não morto, mas certamente perto, é da natureza que cresce, que liberta a calma e a condescendência de um processo lento.

 

 

 

 

 

 

Daniel Plainview é assim a bandeira de um novo cinema, de uma nova dialéctica, sem receio em se esconder em narrativas clássicas, numa prosa sem narrador, onde Anderson abusa vorazmente da narrativa cinematográfica, apenas por imagens, trabalha com aquilo que vemos, encena tudo que está diante de si, cria essa realidade crua, esse medo pela proximidade, pelo fascínio em estar de fora, estar tão afastado que transpomos a barreira que nos separa do que vemos.

 

 

 

 

 

Esta narrativa cinematográfica é tão forte que ficamos intrínsecos à história, é este novo cinema, de contar uma história por imagens e sons, este novo cinema de P.T. Anderson em "Haverá Sangue", que finalmente ultrapassa o limite entre a poesia e a prosa, entre o indecifrável e o conciso, porque o que nos é revelado é, se não dos mais belos poemas, sem propriamente se tratar de um paradigma do egoísmo ou do individualismo, cuidado, não falo sobre a história, mas sobre o processo.

 

 

 

 

 

 É o aproveitar dos meios, é uma produção ágil, após um processo de investigação é recriar o que existiu, pensar onde colocar a câmara, e fascinar, é fazer com que violino arranhe piano, com que a imagem fira a alma, com que o ser se sinta invadido pelo sublime, pelo belo. Uma obra de arte não é efémera, caminha sem se desarticular nunca com o tempo, uma obra de arte fica ligada a uma pessoa até ao fim da sua vida, assume-se como parte da vida de outrem sem ser a do seu criador.

 

 

 

 

 

 "Haverá Sangue" é uma obra de arte, duradoura, eterna, é cinema, é a prova do belo na sétima arte, a revelação do estranho, é tornar grandiosa a realidade, é conseguir arrancar naturalmente todo o Mundo, é a transformação do homem no transcendente, sem no entanto confundir. Isto é arte, esta poesia que se percebe e não ofusca, que não tem contratos com a ambiguidade. Se há ambiguidade em "Haverá Sangue" é porque surge naturalmente, não forçada porque é moda ou porque se pensa que é a fórmula para um sucesso garantido. "Haverá Sangue" é aquilo que é, o cinema que conquista um publico.

 

 

 

 

 

 

"Haverá Sangue" é o cinema aclamado mundialmente, e com toda a razão, é o cinema que serve de modelo a uma geração, "Haverá Sangue" é o cinema que deve inspirar novos cineastas, deve ser o marco do devir.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

publicado por Pedro Emanuel Cabeleira às 22:15

De Pedro Emanuel Cabeleira a 19 de Fevereiro de 2011 às 14:39
Obrigado.
Diogo, já debatemos muito a genialidade desta obra e nunca parece ser demais, uma obra única , arrepiante e provavelmente o "futuro" melhor filme de sempre.
E a música é fenomenal!


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Embora o filme não seja nenhuma obra prima, penso ...
Boas mt thanks isto é bastant agradavel... esse po...
DIOGO: Muito obrigado pelo comentário.BRUNO: Sê be...
Obrigado. Diogo, já debatemos muito a genialidade ...
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