Tenho a impressão que quando “Psico” estreou em 1960, o sangue gelou a uma infinita multidão que se pasmou ao ver aquilo que é até hoje, um marco cinematográfico. Hitchcock criou raízes no cinema, “Psico” atinge tal profundidade que será difícil de arrancar. Invejo quem assistiu à sua estreia, quem sentiu o seu poder inicial, quem pode respirar pela primeira vez este doloroso drama, esta memorável intriga.

Vísceras e vermelho escorrem do ecrã, mesmo quando este inunda preto e branco. Sombra, luz, som que arrepia, imagens milimetricamente perfeitas, movimentos assombrosos. Um olho rodopia, ou seremos nós que rodopiamos de tal modo atordoados por um dos mais marcantes assassínios que passaram pela tela?

O cepticismo bem poderá ter transbordado nas mentes dos espectadores. Mas no final, tão intenso como todo o filme, regozijamos, regozijamos porque vimos cinema! Vimos arte! Vimos algo singular em toda a nossa vida! Orgulho-me de ter visto e vivido “Psico”. Morei ao lado de Norman Bates, conduzi com Marion e arrepiei-me com Hitchcock.

Como se poderá esquecer o clima de cortar a respiração comandado por uma banda sonora tão profunda como a própria história. Cheira a mestria esta comunhão de som e movimento e luz. Inegável será dizer que assenta que nem uma luva, uma fusão tão perfeitamente enquadrada. Um sentimento arrebatador abate o espectador no final, impressiona.

Os pontos finais e vírgulas irão marcar cada pulsação, as transacções de cena para cena, os personagens que estão intimamente ligados à conjuntura consagrada em “Psico” transformarão uma película numa experiência. Imaginemos nós, inspiremo-nos para tratar arte como esta se trata em tão esbeltos e virtuosos paradigmas. Atenção, “Psico” é um paradigma.